PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS DE AVENTURA NA NATUREZA
UNIJUÍ – Curso de Licenciatura em Educação Física
98900-000 Santa Rosa – RS
Acad. Fernando Moser Bach
fbslipknot@gmail.com
INTRODUÇÃO
A busca pela
aventura, pelo desconhecido, longe dos padrões urbanos, tem se mostrado cada
vez mais frequente, quando se percebe o aumento de vivências naturais, presente
nas atividades físicas de aventura em contato direto com o meio ambiente
natural, no sentido de buscar condições favoráveis para uma válvula de
escape do estresse urbano.
As relações
mantidas entre homem e natureza já vêm sendo discutidas há algum tempo, em
estudos referentes às várias áreas de conhecimento humano. Estes estudos
procuram levar em conta a importância de reflexões sobre esta interação humana
com o meio ambiente, apontando o compromisso com mudanças de atitudes e
valores, que possam interferir positivamente nessa relação (BRUHNS, 1997).
OBJETIVO
O vigente artigo pretende mostrar de maneira
filosófica, até mesmo romântica, a saga de distintos homens, que neste último
século buscaram no interior das florestas, pelo meio do isolamento social e
desprendimento da sociedade a busca para o encontro do - verdadeiro “eu”.
METODOLOGIA
Diante de análise
bibliográfica em periódicos e artigos, como também se valendo de obras
cinematográficas, busca-se, sobretudo levar o leitor deste artigo a uma
reflexão crítico contemporânea dos valores em que estamos atualmente inseridos,
como também, perante isso quiçá incutir novas ideologias que posteriormente sejam
capazes de proporcionar um sujeito crítico.
AVENTURAS E AVENTUREIROS
Christopher Johnson McCandless. Crescera num bairro
rico de Washington, D.C., onde fora excelente aluno e atleta de elite. No verão
de 1990, logo após formar-se, McCandless sumiu de vista. Mudou de nome, doou os
24 mil dólares que tinha de poupança a uma instituição de caridade dedicada
a combater a fome, abandonou
seu carro e a maioria de seus pertences, queimou todo o dinheiro que tinha na
carteira. Inventou então uma vida nova para si, perambulando em direção ao
Alasca atrás de experiências cruas, transcendentes.
Bem,
como explicar essa atitude de McCandless? Ou ainda, em termos mais amplos: a
atração que as regiões selvagens exercem; o fascínio que homens jovens com
certo tipo de mentalidade sentem por atividades de alto risco. Decorre de que
vertente de pensamento?
O
resultado investigatório por parte do biógrafo Jon Krakuer que pesquisou os
passos de McCandless resultaram no livro e posteriormente filme – Into The Wild
(Na Natureza Selvagem). O seguinte trecho nos ajuda a compreender:
Ele era um jovem veemente demais e
possuía traços de idealismo obstinado que não combinavam facilmente com a
existência moderna. Cativado havia muito tempo pela leitura de Tolstoi,
admirava em particular como o grande romancista tinha abandonado uma vida de
riqueza e privilégios para vagar entre os miseráveis. Na faculdade, McCandless
começou a imitar o ascetismo e o rigor moral de Tolstoi a tal ponto que
primeiro espantou, depois alarmou, as pessoas que lhe eram próximas. Quando o
rapaz se internou no mato do Alasca, não cultivava ilusões de que estivesse
entrando numa terra de leite e mel; perigo, adversidade e despojamento
tolstoiano era exatamente o que estava buscando. E foi o que encontrou, em
abundância (KRAKUER, 1998).
O biógrafo em inúmeras ocasiões acaba atribuindo ligação entre
o jovem citado e o escritor russo Tolstoi. Para melhor entendimento do pensamento
de Tolstoi, segue:
Eu queria movimento
e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade
de sacrificar-me por meu amo! Sentia em mim uma superabundância de energia que
não encontrava escoadouro em nossa vida tranquila (TOLSTOI, 1858 apud KRAKUER,
1998, pg. 20).
É comumente empregado de que a volta do gênero humano a
natureza, acarreta-lhe a transcendência de novos e mais elevados valores.
Segundo, Jack London: “A besta primordial dominante era forte em Buck e, sob as
violentas condições da vida na trilha, ele cresceu e cresceu. Contudo, era um
crescimento secreto. Sua nova sagacidade deu-lhe aprumo e controle.” (LONDON, 2003).
A este respeito, acredita que hoje
vive-se uma fase complexa, com perdas de valores e estilos de vida, vazio
existencial e incômodos permanentes. Busca-se algo desconhecido e indefinido,
daí o interesse cada vez maior em tais atividades, as quais estão centradas na
aventura e no risco controlado (BRUHNS, 1997).
A busca
pelo prazer, pela emoção e pela aventura podem representar, na visão de (SCHWARTZ,
2002), importantes elementos potenciais na perspectiva de alterações de
atitudes e valores, características fundamentais ligadas ao hábito destas práticas,
capazes de interferir na perspectiva de mudanças de estilos almejada no mundo
contemporâneo.
Inúmeros
filósofos e escritores, entre eles – Henry David Thoreau, Leon Tolstoi, Jack
London; têm defendido por meio de seus pensamentos, uma posição a favor do
desprendimento da sociedade, pois como elementos da civilização,
inconscientemente, estamos enraizados culturalmente por seus valores e modelos
éticos.
Podem-se obter algumas luzes sobre a história de McCandless
estudando antecessores da mesma cepa exótica. Outro aventureiro, que não
deve ser deixado de mencionar é o americano Everett Ruess, que viveu por volta
de 1934. Ruess era, nas palavras de STEGNER (apud KRAKAUER, 1998),
"um romântico implume, um esteta adolescente, um andarilho atávico dos desertos":
Ele escreveu cartas longas, luxuriantes, entusiasmadas para
sua família e amigos, maldizendo os estereótipos da civilização,
gritando seu bárbaro alarido adolescente na cara do mundo. Seu exacerbado romantismo fica evidente na última carta
recebida de Everett Ruess, ao seu irmão Waldo, datada de 11 novembro de 1934.
Em relação a
quando visitarei a civilização, não será em breve, acho. Não me cansei da
natureza; ao contrário, deleito-me cada vez mais com sua beleza e com a vida
errante que levo. Prefiro a sela ao bonde, e o céu salpicado de estrelas a um
teto, a trilha obscura e difícil, levando ao desconhecido, a qualquer estrada
pavimentada, e a paz profunda do campo ao descontentamento gerado pelas
cidades. Você me censura por ficar aqui, onde sinto que é o meu lugar e que sou
uno com o mundo a minha volta? É verdade que sinto falta de companhia
inteligente, mas há tão poucos com quem possa compartilhar as coisas que
significam tanto para mim que aprendi a me contentar. É suficiente que eu
esteja cercado de beleza...
Mesmo com base em sua descrição
insuficiente, sei que não conseguiria suportar a rotina e o tédio da vida que
você é forçado a levar. Não acho que poderei algum dia fixar residência. Já
conheci demais as profundezas da vida e preferiria qualquer coisa a um
anticlímax (RUESS, 1934 apud KRAKUER, 1998).
O que
Everett Ruess buscava era a beleza e a concebia em termos bastante românticos.
Podemos nos sentir inclinados a rir da extravagância de seu culto à beleza, se
não houvesse algo quase magnificente em sua dedicação sincera a ela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo em si deve provocar
divergentes pontos de vista, haverá aqueles que refletirão sobre as atitudes
expostas – de que o abandono da sociedade para viver na floresta; são
narcisistas, dementes, anárquicas ou até dotadas de estupidez. No entanto, haverá
no cerne daqueles dotados de espírito mundano, a admiração e inclinação pela
coragem e os nobres ideais.
Posto
que o fato mencionado acima seja de supra relevância, dado o objetivo a
propósito da reflexão crítico contemporânea dos valores vigentes.
Espera-se que o resultado apresente a luz da consciência e à natureza humana,
perspectivas filosóficas de aventura na natureza, capazes de desencadear uma
visão estética da natureza e inspiradora para a prática da atividade.
REFERÊNCIAS
KRAKUER, Jon. Na
natureza selvagem. Tradução Pedro
Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
BRUHNS, Heloisa. Lazer e meio ambiente: corpos buscando
o verde e a aventura. Campinas: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte,
1997.
LONDON, Jack. O
chamado da floresta. Tradução William Lagos. Coleção L&PM
Pocket, 2003.
SCHWARTZ, Gisele.
Atividades de aventura na natureza:
investindo na qualidade de vida. Disponível em < http://www .efdeportes.com/efd58/avent.htm> Acesso em: 28 set 2011.
investindo na qualidade de vida. Disponível em < http://www .efdeportes.com/efd58/avent.htm> Acesso em: 28 set 2011.
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