quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Artigo



PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS DE AVENTURA NA NATUREZA


UNIJUÍ – Curso de Licenciatura em Educação Física
98900-000 Santa Rosa – RS
Acad. Fernando Moser Bach
fbslipknot@gmail.com



INTRODUÇÃO
           A busca pela aventura, pelo desconhecido, longe dos padrões urbanos, tem se mostrado cada vez mais frequente, quando se percebe o aumento de vivências naturais, presente nas atividades físicas de aventura em contato direto com o meio ambiente natural, no sentido de buscar condições favoráveis para uma válvula de escape do estresse urbano.
           As relações mantidas entre homem e natureza já vêm sendo discutidas há algum tempo, em estudos referentes às várias áreas de conhecimento humano. Estes estudos procuram levar em conta a importância de reflexões sobre esta interação humana com o meio ambiente, apontando o compromisso com mudanças de atitudes e valores, que possam interferir positivamente nessa relação (BRUHNS, 1997).


OBJETIVO
            O vigente artigo pretende mostrar de maneira filosófica, até mesmo romântica, a saga de distintos homens, que neste último século buscaram no interior das florestas, pelo meio do isolamento social e desprendimento da sociedade a busca para o encontro do - verdadeiro “eu”.

METODOLOGIA

           Diante de análise bibliográfica em periódicos e artigos, como também se valendo de obras cinematográficas, busca-se, sobretudo levar o leitor deste artigo a uma reflexão crítico contemporânea dos valores em que estamos atualmente inseridos, como também, perante isso quiçá incutir novas ideologias que posteriormente sejam capazes de proporcionar um sujeito crítico.   

AVENTURAS E AVENTUREIROS
           Christopher Johnson McCandless. Crescera num bairro rico de Washington, D.C., onde fora excelente aluno e atleta de elite. No verão de 1990, logo após formar-se, McCandless sumiu de vista. Mudou de nome, doou os 24 mil dólares que tinha de poupança a uma instituição de caridade dedicada a combater a fome, abandonou seu carro e a maioria de seus pertences, queimou todo o dinheiro que tinha na carteira. Inventou então uma vida nova para si, perambulando em direção ao Alasca atrás de experiências cruas, transcendentes.
           Bem, como explicar essa atitude de McCandless? Ou ainda, em termos mais amplos: a atração que as regiões selvagens exercem; o fascínio que homens jovens com certo tipo de mentalidade sentem por atividades de alto risco. Decorre de que vertente de pensamento?
O resultado investigatório por parte do biógrafo Jon Krakuer que pesquisou os passos de McCandless resultaram no livro e posteriormente filme – Into The Wild (Na Natureza Selvagem). O seguinte trecho nos ajuda a compreender:
Ele era um jovem veemente demais e possuía traços de idealismo obstinado que não combinavam facilmente com a existência moderna. Cativado havia muito tempo pela leitura de Tolstoi, admirava em particular como o grande romancista tinha abandonado uma vida de riqueza e privilégios para vagar entre os miseráveis. Na faculdade, McCandless começou a imitar o ascetismo e o rigor moral de Tolstoi a tal ponto que primeiro espantou, depois alarmou, as pessoas que lhe eram próximas. Quando o rapaz se internou no mato do Alasca, não cultivava ilusões de que estivesse entrando numa terra de leite e mel; perigo, adversidade e despojamento tolstoiano era exatamente o que estava buscando. E foi o que encontrou, em abundância (KRAKUER, 1998).

           O biógrafo em inúmeras ocasiões acaba atribuindo ligação entre o jovem citado e o escritor russo Tolstoi. Para melhor entendimento do pensamento de Tolstoi, segue:

Eu queria movimento e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amo! Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida tranquila (TOLSTOI, 1858 apud KRAKUER, 1998, pg. 20).
          É comumente empregado de que a volta do gênero humano a natureza, acarreta-lhe a transcendência de novos e mais elevados valores. Segundo, Jack London: “A besta primordial dominante era forte em Buck e, sob as violentas condições da vida na trilha, ele cresceu e cresceu. Contudo, era um crescimento secreto. Sua nova sagacidade deu-lhe aprumo e controle.” (LONDON, 2003).

           A este respeito, acredita que hoje vive-se uma fase complexa, com perdas de valores e estilos de vida, vazio existencial e incômodos permanentes. Busca-se algo desconhecido e indefinido, daí o interesse cada vez maior em tais atividades, as quais estão centradas na aventura e no risco controlado (BRUHNS, 1997).

A busca pelo prazer, pela emoção e pela aventura podem representar, na visão de (SCHWARTZ, 2002), importantes elementos potenciais na perspectiva de alterações de atitudes e valores, características fundamentais ligadas ao hábito destas práticas, capazes de interferir na perspectiva de mudanças de estilos almejada no mundo contemporâneo.

Inúmeros filósofos e escritores, entre eles – Henry David Thoreau, Leon Tolstoi, Jack London; têm defendido por meio de seus pensamentos, uma posição a favor do desprendimento da sociedade, pois como elementos da civilização, inconscientemente, estamos enraizados culturalmente por seus valores e modelos éticos.

           Podem-se obter algumas luzes sobre a história de McCandless estudando antecessores da mesma cepa exótica. Outro aventureiro, que não deve ser deixado de mencionar é o americano Everett Ruess, que viveu por volta de 1934. Ruess era, nas palavras de STEGNER (apud KRAKAUER, 1998), "um romântico implume, um esteta adolescente, um andarilho atávico dos desertos":

           Ele escreveu cartas longas, luxuriantes, entusiasmadas para sua família e amigos, maldizendo os estereótipos da civilização, gritando seu bárbaro alarido adolescente na cara do mundo. Seu exacerbado romantismo fica evidente na última carta recebida de Everett Ruess, ao seu irmão Waldo, datada de 11 novembro de 1934.

Em relação a quando visitarei a civilização, não será em breve, acho. Não me cansei da natureza; ao contrário, deleito-me cada vez mais com sua beleza e com a vida errante que levo. Prefiro a sela ao bonde, e o céu salpicado de estrelas a um teto, a trilha obscura e difícil, levando ao desconhecido, a qualquer estrada pavimentada, e a paz profunda do campo ao descontentamento gerado pelas cidades. Você me censura por ficar aqui, onde sinto que é o meu lugar e que sou uno com o mundo a minha volta? É verdade que sinto falta de companhia inteligente, mas há tão poucos com quem possa compartilhar as coisas que significam tanto para mim que aprendi a me contentar. É suficiente que eu esteja cercado de beleza...
Mesmo com base em sua descrição insuficiente, sei que não conseguiria suportar a rotina e o tédio da vida que você é forçado a levar. Não acho que poderei algum dia fixar residência. Já conheci demais as profundezas da vida e preferiria qualquer coisa a um anticlímax (RUESS, 1934 apud KRAKUER, 1998).
           O que Everett Ruess buscava era a beleza e a concebia em termos bastante românticos. Podemos nos sentir inclinados a rir da extravagância de seu culto à beleza, se não houvesse algo quase magnificente em sua dedicação sincera a ela.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
           O artigo em si deve provocar divergentes pontos de vista, haverá aqueles que refletirão sobre as atitudes expostas – de que o abandono da sociedade para viver na floresta; são narcisistas, dementes, anárquicas ou até dotadas de estupidez. No entanto, haverá no cerne daqueles dotados de espírito mundano, a admiração e inclinação pela coragem e os nobres ideais.
            Posto que o fato mencionado acima seja de supra relevância, dado o objetivo a propósito da reflexão crítico contemporânea dos valores vigentes. Espera-se que o resultado apresente a luz da consciência e à natureza humana, perspectivas filosóficas de aventura na natureza, capazes de desencadear uma visão estética da natureza e inspiradora para a prática da atividade.




REFERÊNCIAS
KRAKUER, Jon. Na natureza selvagem. Tradução Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

BRUHNS, Heloisa. Lazer e meio ambiente: corpos buscando o verde e a aventura. Campinas: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 1997.

LONDON, Jack. O chamado da floresta. Tradução William Lagos. Coleção L&PM Pocket, 2003.

SCHWARTZ, Gisele. Atividades de aventura na natureza:
investindo na qualidade de vida. Disponível em < http://www .efdeportes.com/efd58/avent.htm> Acesso em: 28 set 2011.

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